quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

 
 
 
 
COMO GAYS E LÉSBICAS PERCEBEM SUA INSERÇÃO NA POLÍCIA CIVIL, UMA ORGANIZAÇÃO RECONHECIDA COMO MASCULINA E VIRIL?
 
 
Dilma Dias Guimarães*
 
 
 
Desde os primórdios, à época de Maquiavel os policiais e militares já eram considerados como pessoas viris, de estatura elevadas, ágeis, vigorosos e embrutecidos. Os homens efeminados eram pouco favoráveis para abraçar a vida das armas. Ainda hoje, nos tempos modernos em que as pessoas são punidas por discriminarem ou mostrarem preconceitos em relação à orientação sexual de outras pessoas, os homossexuais continuam a permanecerem invisíveis perante alguns ramos da sociedade. O conceito de Invisibilidade Social (PORTO, 2006) tem sido aplicado, em geral, quando se refere a seres socialmente invisíveis, seja pela indiferença, seja pelo preconceito e a invisibilidade pública (Costa, 2004), desponta como um fenômeno psicossocial, definido como o desaparecimento de um homem entre outros homens. A invisibilidade seria então o resultado do processo de humilhação social, construído durante séculos e sempre determinante no cotidiano dos indivíduos. Com as ondas de busca de visibilidade por meio dos movimentos sociais homossexuais, esse quadro vai se modificando, entretanto para a instituição policial a invisibilidade continua presente. A Polícia Civil é considerada ainda hoje um local predominantemente masculinizado e por esse motivo foi escolhida como objeto desta pesquisa, com o intuito de verificar se os homossexuais femininos e masculinos são invisíveis e discriminados pelos seus pares. Acredita-se que os homossexuais femininos são identificados como ocupantes legítimos do cargo pela especificidade da função, enquanto os homossexuais masculinos são mais invisíveis e mais discriminados. Trata-se de uma pesquisa Fenomenológica, a coleta de informações se deu por meio de entrevista semi-estruturada aplicadas a três gays e duas lésbicas, agentes de polícia da Polícia Civil do Distrito Federal e o tratamento das informações foi feito por meio de análise compreensiva comparando as informações entre os dois grupos. Concluiu-se que os gays são mais discriminados que as lésbicas e que existe pouca visibilidade em relação à pessoa homossexual na PCDF. Acredita-se ainda que nos tempos modernos em que as pessoas são punidas por discriminarem ou mostrarem preconceitos em relação à condição sexual de outras pessoas, os homossexuais permanecem invisíveis perante alguns ramos da sociedade. Isso ocorre principalmente em culturas machistas.
 
 
 
 
 
 
 
Referências Bibliográficas:
 
COSTA, F. Homens invisíveis: relatos de uma humilhação social. São Paulo: Ed. Globo, 2004.
 
FACCHINI, R. Visibilidade é legitimidade? O movimento social e a promoção da cidadania LGBT no Brasil. Psicologia e diversidade sexual: desafios para uma sociedade de direitos. Conselho Federal de Psicologia, Brasília, 2011.
 
MAQUIAVEL, N. A arte da guerra. Tradução: Ciro Mioranza, Ed. Escala, São Paulo, 2ª edição revisada, 2006.
 
PORTO, J. Invisibilidade Social e a Cultura do Consumo. Rio de Janeiro. PUC-RIO, 2006. Disponível em: http://www.dad.puc-rio.br(dad07)arquivos_download/43.pdf. Acesso em 07/12/2011


* Psicóloga especialista em psicologia clínica, organizacional e do trabalho. Especialista em saúde mental pela Universidade de Brasília. Atualmente chefe do Núcleo de Prevenção e Atenção à Saúde Mental da Policlínica da Polícia Civil do Distrito Federal e perita do Juízo da Justiça Federal. Email: dilmadg@gmail.com